Você já ouviu falar em cultura surda? A cultura surda, assim como qualquer outra, abrange elementos que são próprios dos indivíduos que se identificam como tal, e que vão desde particularidades da vida de cada um até a produção cultural propriamente dita. Assim, também compõe esses elementos culturais: a linguística, a música, a dança, a moda, a participação social, a literatura e qualquer outro movimento de livre expressão do sujeito.
A identidade, por sua vez, é uma das questões mais investigadas pela psicologia, que procura apurar como o processo identitário é concebido mediante a construção social. Enquanto análise, e de acordo com Moacir Gadotti, educador e professor da Universidade de São Paulo, ela se constitui uma processualidade histórica associada ao conjunto das relações sociais que fazem parte da vida. Destarte, o homem enquanto sujeito social e inserido nesse contexto sócio-histórico, apresenta singularidades moldadas pelo meio em que vive e ressaltadas pela interação com outros homens. Contudo, segundo Maria da Graça Corrêa Jacques, pós doutora em psicologia, o conceito de identidade não pode ser limitado ao de autoconsciência ou autoimagem. Isso, porque ela é o ponto de referência, a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si, caráter ainda mais restrito.
Desse modo, a valorização da identidade surda por meio da cultura visa, além de fortalecer a autoimagem, promover a união, bem como denunciar desigualdades enfrentadas pela comunidade. Assim sendo, falar de cultura e identidade é rejeitar a noção de que a surdez é uma falha.
Linguístico
Por viverem em um mundo visual-gestual, o processo mental pode se desenvolver de maneira distinta, quando em comparação aos ouvintes que usam a capacidade de ouvir para se comunicarem. Por conta disso (e por viverem numa sociedade onde são minoria), há a possibilidade de ocorrer uma comunicação imprópria, o que pode acarretar consequências para o crescimento intelectual, social e emocional dessas pessoas. Assim, a aquisição da linguagem de sinais é extremamente importante para o desenvolvimento de suas identidade pessoais, e, por sermos seres sociais, precisamos nos identificar com uma comunidade, ou seja, precisamos de uma identidade cultural (processo de consciência de si próprio e como parte de algo maior). Dessa forma, as línguas de sinais, de características viso-especiais, são as línguas maternas de pessoas surdas, e ela é tão complexa quanto qualquer outra. Diferente do que muitos acreditam, não se trata de uma versão da língua falada, como o português, por exemplo, mas sim de um outro sistema que conta com regras próprias.
Visualidade
Obviamente, como a vivência surda é majoritariamente visual, a visão é uma das principais portas de contato com o mundo. Como reforço, a cultura conta com as artes visuais, com o humor, comédia e atuação em língua de sinais, influenciadores digitais da comunidade surda, além de produções audiovisuais, como documentários, filmes e seriados voltados para os deficientes auditivos.
Associações
Existem associações que dão a possibilidade do surdo interagir com outros não ouvintes, o que certamente ajuda na construção de suas identidades a partir da chance de aprender a língua de sinais, assim como conhecer as lutas sociais da comunidade e os demais aspectos da cultura.
Literatura
As produções literárias em língua de sinais, a sing writing, têm transformado o conceito de acessibilidade. Isso, porque além do registro das próprias produções culturais, há também as traduções de obras estrangeiras e outras formas de documentação.
A experiência de entrar em contato com universos diferentes agregada na formação e na identificação de si mesmo como parte de um todo. Assim, a constante quebra de barreiras pode lhes permitir expansões ilimitadas.
Qual a importância disso tudo? Dar visibilidade à causa. Isso basta, não é verdade?