A maioria dos seres humanos nasce ouvindo e desenvolve habilidades auditivas, como memória, reconhecimento e localização da fonte sonora. A memória é compreendida como a capacidade de armazenar e de restaurar informações. O processo de formação da memória de curto prazo acontece por meio da ativação ou desativação de vias sinápticas no córtex cerebral.
Quando adultos, o tempo de retenção e a quantidade de informação armazenada podem ser ampliados com treinamento, contudo, em momentos de múltiplas tarefas, a capacidade dessa memória torna-se limitada em virtude da distribuição de demandas cognitivas para as diferentes respostas que essas situações exigem.
O processo de criação da memória auditiva envolve etapas, como:
- a percepção do som/audibilidade;
- dar atenção ao que foi ouvido;
- armazenamento.
Apesar de simples, a segunda etapa é uma das mais complexas. Isso, porque escutar os sons e buscar na memória auditiva algo que seja compatível (à nível de compreensão) não é uma tarefa tão descomplicada como parece. Para portadores de deficiência auditiva, esse estágio se torna ainda mais difícil, já que a situação não é favorável, e em ambientes com ruídos o esforço é ainda maior.
Além disso, há artigos que consideram a memória auditiva como parte essencial no processo de aprendizagem, principalmente para as crianças, visto que elas reagem a estímulos auditivos a partir da vigésima semana de gestação. De acordo com esses autores, o déficit de memória auditiva pode aumentar o risco de desenvolver problemas na fala, embora a oralidade (aparelho fonador) se distingue inteiramente do sistema auditivo. Nesse caso, a questão não está apenas relacionada à capacidade de ouvir, mas sim à atenção ao que está sendo escutado.
Dessa forma, a memória auditiva só pode ser construída se houver a concentração da atividade mental no som. Portanto, treinar a atenção aos sons nos ajuda a tornar essa memória mais eficiente.
A deficiência auditiva é um dos distúrbios da comunicação mais incapacitantes. Seja congênito, adquirido ou por envelhecimento, a dificuldade em ouvir é vista como uma questão de saúde pública. A forma como o aparelho auditivo recebe, analisa, distribui e organiza aquilo que ouvimos é chamado de processamento auditivo. É a avaliação desse processo que verifica a maneira como o paciente recebe as informações sonoras por meio das habilidades auditivas, que são fundamentais para a compreensão do que se ouve.
A Universidade de São Paulo publicou, em 2015, uma pesquisa relacionando processamento auditivo e marcadores de tempo por habilidade auditiva. Nesse estudo, o objetivo foi analisar o tempo de aquisição dessas habilidades em crianças com idade escolar e diagnosticadas com distúrbio do processamento auditivo central. A conclusão mostrou que foi possível observar adequação das habilidades em todos os indivíduos participantes do estudo.
Em idosos portadores de presbiacusia, distúrbio resultante da dessensibilização auditiva por degeneração fisiológica do sistema, a dificuldade em ouvir vem acompanhada do declínio no discernimento da fala.
Em outro estudo, dessa vez conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais, contatou-se que crianças em contato com o meio ambiente determina a qualidade do desenvolvimento de tais habilidades. Dessa forma, o treinamento auditivo tem aperfeiçoado esses processos, promovendo uma reorganização do substrato neural auditivo, assim, percebeu-se mudanças morfológicas e de desempenho após estimulação severa.
Curiosidade: A memória de curto prazo tanto para o visual quanto para o auditivo, segue o mesmo caminho no cérebro. Assim, fica fácil de se imaginar que pode haver interferência entre esses sentidos, não é verdade?
Mas lembre-se, a memória é frágil e pode falhar.