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Escrevendo a Libras

Publicado por Fonaudio em 24 de outubro de 2020

Você sabe o que é SignWriting? O SignWriting é um sistema para escrever a língua de sinais, sendo capaz de expressar os movimentos, as formas das mãos, as marcas não manuais e os pontos de articulação. Há até pouquíssimo tempo, grande parte dos linguistas e da própria comunidade surda, afirmavam que a língua de sinais era ágrafa, ou seja, sem escrita. Hoje, entretanto, essa história mudou.

A Língua de Sinais tem grafia própria. (Reprodução/Freepik)

‘’Assim como há duas décadas começamos a discutir a língua de sinais, hoje, começamos a descobrir suas riquezas através de uma escrita própria’’ – History of SignWriting written in Brazilian Portuguese

O sistema, cujo objetivo inicial era descrever os movimentos das danças, foi criado em 1974 por Valerie Sutton. Todavia, a inovação veio na hora certa para a comunidade surda: pesquisadores dinamarqueses estavam à procura de algo que pudesse ‘’transcrever’’ a língua de sinais quando encontraram o sistema de Sutton! Dessa forma, a década de 70 foi marcada pela transição do DanceWriting para o SignWriting.

O primeiro workshop sobre o sistema que revolucionou a comunicação foi organizado, em 1977, para a Sociedade de Linguística de New England, nos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, a companhia do Teatro Nacional de Surdos foi o primeiro grupo de surdos adultos a aprender sobre o sistema. A partir daí, os avanços foram cada vez mais frequentes e importantes: a primeira estória escrita em SignWriting, Goldilocks and The Three Bears – Cachinhos Dourados e os Três Ursos – havia sido publicada.

Na década de 80, outra grande revolução fora anunciada: Valerie Sutton apresentou, em simpósio nacional, uma forma de analisar a língua de sinais americana, bem como qualquer outra língua de sinais, sem a necessidade de traduzi-la por meio da língua oral. Desse modo, assim como o latim derivou idiomas, como o português, o francês e o italiano, o SignWriting é um código internacional que permite sua adaptação em qualquer idioma.

Valerie Sutton. (Reprodução/Google)

Em pouco tempo, o sistema passou do papel para o computador, o que disseminou rapidamente a inovação. No Brasil, o projeto só começou a tomar forma na virada do século, com o trabalho desenvolvido por Marianne Rossi Stumpf, a primeira surda a escrever a LIBRAS. Escolas do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de São Paulo começaram a se interessar por essa nova modalidade de comunicação nesse mesmo período.

Qual a importância disso tudo?

Bom, imagine você se comunicando sem uma língua escrita… tendo que aprender um outro idioma falado sem conseguir escutar ou escutando com dificuldade. Pois bem, essa é uma das lutas da comunidade surda. Para ela, por conta do impedimento auditivo, o aprendizado da língua portuguesa irá se processar como o de uma língua estrangeira, já que o mesmo irá exigir ambientação artificial e sistematização por meio de metodologias próprias de ensino.

Até esse sistema ser criado, os usuários das línguas de sinais não conseguiam escrever em seu próprio idioma, e apesar de no Brasil ter o ensino do português, a dificuldade enfrentada era e – continua – imensa. Para alguns autores brasileiros, é válida a defesa de que a língua de sinais escrita, por não apresentar impeditivos em seu processo de aprendizagem, deveria ser a primeira a ser assimilada pela comunidade surda.

A língua de sinais é natural e conta com organização em todos os níveis gramaticais, do fonológico ao semântico, prestando-se às mesmas funções de línguas faladas, entretanto, a sua elaboração, diferente das demais, é executada por meio de recursos gestuais e espaciais e sua percepção é alcançada através dos processos visuais.

No  Brasil, a LIBRAS é mais frequente nos grandes centros urbanos. Distante dessas localidades, a comunidade surda enfrenta uma série de percalços: a não aceitação pela família, a falta ou ausência de contato com outros surdos, a presença de metodologia tradicional de ensino nas escolas e, mais frequentes nas zonas rurais, os casos de desconhecimento da existência da língua.

Por muito tempo, aqui e no mundo, os surdos foram proibidos de utilizar sua língua natural, sendo negado o direito de uma comunicação mais adequada às suas condições. Dessa forma, durante boa parte da vida familiar e acadêmica, a comunidade dependeu de suas habilidades individuais para desenvolver a oralidade, o que na grande maioria dos casos não acontecia de forma satisfatória. O resultado não poderia ser outro: um número assustador de surdos cresceram analfabetos e sem condições efetivas de integração e participação social, reflexo da ausência de políticas públicas no período em questão.

A construção do aprendizado nos surdos, diferente do que ocorre com os ouvintes, se dá pelo funcionamento linguístico-cognitivo baseado, essencialmente, em processos visuais, e não em processos orais-auditivos. Dessa forma, a língua de sinais pode desempenhar o papel de intermediadora na construção desse significado, ou seja, no ato de escrever e de ler o mundo.

A divulgação do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira, foi de suma importância e ajudou a tornar público o SignWriting no Brasil. Na obra, além das explicações formais sobre o sistema, é possível encontrar para cada termo em português a grafia em escrita de sinais, o que possibilita a reflexão e o exercício da língua.

(Reprodução/UFT)

O alfabeto SignWriting da LIBRAS é a representação visual escrita, desenvolvido a partir das configurações e movimentações das mãos. Assim fica fácil ver a importância da escrita para a comunidade surda, não é verdade?

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